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lirik lagu gabriel, o pensador - 175 nada especial

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[verso 1]
mais um dia, mais um ônibus que eu peguei no rio
um ônibus tranquilo: estava vazio!
e a cidade engarrafada, como não podia deixar de ser
viagem demorada, o que fazer?
sem nenhuma mulher por perto pra bater um papo esperto
resolvi escrever um rap a mais, mas não estou bem certo
sobre o que eu vou rimar
– diz aí trocador – (ah sei lá)
então eu vou no instinto
pego um papel e vamos vê o quê que dá
foi nesse instante em que eu olhei pela janela
e que susto eu levei
era ela: a inflação estampada na vitrine
atingiu meu coração e deu vontade de partir pro crime
porque o que eu quero comprar já não dá mais
a não ser que eu faça como fez o ferrabrás (quem?)
então eu tento esquecer, continuar a rimar
mas o que eu vejo do outro lado é duro de acreditar
mas é real e a realidade dói demais
são dois mendigos se matando pelos restos mortais
de um cachorro qualquer que foi atropelado
e vai virar rango e se der talvez seja -ssado
(hmm, esses nojentos gostam disso?)
– não arrombado
aquilo é um ser humano que chamaram de descamisado
– um desesperado, um brasileiro como eu
que deve sempre perguntar (será que existe mesmo deus?)
não é o pensador que vai tentar responder
eu continuo rimando tentando esquecer

[refrão]
porque esse rap não é sobre nada especial
é o rap do 175 que eu peguei na central

[verso 2]
e de repente o ônibus começou a encher
entrou mais gente, houve um tumulto
alguém gritou e eu olhei pra ver
(quê que é isso?
quê que tá pegando?
quê que tá havendo?)
(é um -ssalto, malandro!
será que você ainda não tá percebendo?)
o desespero do trabalhador começou
e eu também tentava esconder meu dinheiro
quando alguém falou
(libera esse aí que é o pensador, mané!)
mas eles eram meus fãs, então levaram meu boné
(autografado né, pensador, se liga!)
alguns acharam que eu era cúmplice quase deu briga
mas a viagem prosseguiu e os ladrões desceram
e aí a raiva que subiu na cabeça dos p-ssageiros
e o mais injuriado era um bigodudo
que tinha ganhado o salário (eles levaram tudo)
entraram dois pms pela porta da frente
estufando o peito e olhando pra gente impondo respeito
mas os ladrões já tavam longe, num tinha mais jeito
pra priorar levaram o bigodudo como suspeito – ele era preto
coisas desse tipo é difícil esquecer
mas eu vou continuar porque eu já disse a você que:

[refrão]

[verso 3]
agora estamos p-ssando pela praia de copacabana
travestis e prost-tutas se acabando por grana
e os gringos vão achando aquilo tudo bacana
(o brasil é um paraíso! as mulheres são boas de cama)
ô gringo não força, deixa de ser imbecil
você que vem lá de fora quer entender do brasil
(ha …”o brasil é um paraíso! – é mole?- e o inferno é onde?!)
-(pera aí, pensador)
e por falar em paraíso, olha que loucura
subiu no coletivo uma estranhíssima figura
com uma bíblia na mão e uma cara de débil mental
pregando a enganação da igreja universal
(ou será que era alguma outra igreja dessas? ah num faz mal, igreja de enganar otário é tudo igual)
e o coitado foi soltando aquele papo de crente
eu rezando: deus me dê paciência!
mas o pentelho desceu pra alegria da gente
e na saída do ônibus sofreu um acidente
se distraiu e foi atropelado pelo caminhão
morreu esmagado com a bíblia na mão
(é morreu? melhor do que viver nessa ilusão
num queria deus? foi pro céu então) – (num sei não)
enquanto todos se benziam com pena do crente
eu fui rimando, bola pra frente

[refrão]

[verso 3]
e eu percebi que o trocador ficou fazendo careta
prum coroa que p-ssou por debaixo da roleta
era um senhor de óculos, barba branca …
ei pera aí (ei, professor, o quê que o senhor tá fazendo aqui?
quê que houve? foi -ssaltado? perdeu o dinheiro?)
-(não … é … sabe oquê que é … eu já gastei o salário inteiro)
hm, hm mudei de -ssunto ele já tava encabulado
no meio do mês o salário dele já tinha acabado
era o meu ex-professor da escola (coitado)
tá fodido e mal pago, daqui a pouco tá pedindo esmola
ele é um mestre, um baú de sabedoria
esse num é o valor que um professor merecia
profissional de primeira importância pro nosso futuro
ninguém mais quer ser professor pra num viver duro
e ele desceu em outra escola pra dar mais aula
(é que eu trabalho nos três turnos
chego em casa e ainda corrijo prova)
tchau professor – (tchau pensador)
desceu mais um trabalhador que tá numa de horror

[refrão]

[verso 4]
e nós agora estamos p-ssando pelo bairro de são conrado
e como o tempo tá fechando eu tô ficando preocupado
ih! choveu! pr-nto, tudo alagado
uns vão nadando outros morrendo afogados
e enquanto na favela tem barraco caindo
não é que p-ssa o prefeito num iate sorrindo
e se o nosso ex-presidente estivesse aqui
ele estaria certamente num belíssimo jet-ski
mas como nós não temos embarcação pra todo mundo
essa triste situação tá parecendo o fim do mundo
pra quem tá de carro, pra quem tá de ônibus
nessa rio-babilônia, no brasil do abandono
e enquanto os governantes vão boiando sorridentes
vamos remando bola pra frente

[refrão]

[verso 5]
e o pior de tudo é que nessa grande viagem
nada disso do que aconteceu foi novidade
e as autoridades estão defecando
pro que acontece ao cidadão brasileiro no seu cotidiano
porque pra eles isso não é nada especial
no dos outros é refresco num faz mal
e fecham os olhos pro que até cego já viu:
o revoltante retrato da vida urbana no brasil!
e eu não me refiro ao 175 ou qualquer linha da central
eu tô falando do dia a dia a qualquer hora em qualquer local
porque esse rap não é sobre nada especial…


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