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lirik lagu cosmonauta fantasma - amanhã vai ser pior

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amanheço numa baia de peixes mortos
engordados por petróleo e lixo plastico
o céu é sempre vermelho escuro
o sol nunca brota

fazemos o nosso próprio horário
nossos banhos de sol imaginários
-ssim como o que dar de comer a nossos filhos

aventurados ou imbecis
aqueles que pensam que existe recurso fora dessas terras
toda geografia fora mapeada
não existe terra virgem
rasamos por terras proibidas

coagidos pela fé de hectares divinos
oferecemos uma morte sem face e sem dignidade em troca
deito e me levanto sob um desejo de vingança nada poético
que invade cada um dos cenários que visito

todas as garagens e estacionamentos dessa cidade
que já me foram consumados a morte
meu lábios tremem
meu calcanhar fraquejado
aceitar e desistir
tem exatamente o mesmo saldo

uma mulher foge com seu rebento
caminhando sem destino por oito dias seguidos
sem qualquer mantimento se enfia em um esgoto
tentando preservar o minimo de dignidade ao falecer

o ranger de botas cada vez mais ensurdecedor
acompanhado da risada fascista e escandalosa
daqueles que a perseguem alerta o inevitável

ela olha pra sua cria que delira de fome de desidratação
é só uma criança e não entende o que é sobreviver
a mulher então a beira de um colapso
e copiosamente desnutrida deseja uma ultima refeição

a tampa do bueiro começa a ranger
ela chora desesperadamente
pois sabe que eles não vão tirar só a vida
mas também a inocência de seu rebento

estranhamento o que já não havia em seu estômago
sai em forma de vômito ao imaginar tal cena

ela se aproxima
p-ssa a língua entre a gengiva e os dentes que lhe restam
ela sente aquela pele fina se soltar facilmente sob a carne
e num sobre-humano esforço se mantém em silêncio
sussurrando repetidas vezes por misericórdia

a ideia de um deus misericordioso é extremamente sedutora
e supera a razão ou qualquer movimento “-ssertativo”
isso que mantém um morro de pé
isso que mantém um negro serviçal

não muito longe dali eu vi jesus cristo
descalço e sujo a pedir esmolas
a caminho do centro do rio de janeiro todos os carros se calavam
não havia ninguém nas ruas
e em meio a praça pública um cartaz pintado com sangue inocente dizia:

“amanhã vai ser pior”

um futuro promissor abreviado por uma geografia ingrata
uma morte sem identidade
outro crime sem face
como o de hoje
como o de amanhã e sempre

rio de janeiro seja pelo calor ou pela violência
nós fizemos o nosso próprio inferno
mas temos um mar de sangue pra você se refrescar
escore nos seus privilégios pra não se afogar

um desejo de vingança e nada mais
sem poesia e sem glamourização
rasamos por terras proibidas
imbecis ou aventurados
nós nascemos e morremos no mesmo quintal
nós nascemos e morremos exatamente no mesmo quintal

pátria amada
autoridades idolatradas
durante todo o percurso gritando as palavras que já cantei
e mesmo -ssim é impossível de me fazer entender

até quando a existência do meu povo só vai servir de linha de frente?
hein?
e você ainda acha que isso tudo é pra te dizer “eu te avisei”?
hein?

os movimentos repet-tivos
a mão de obra escrava
a carne mais barata
a fé de hectares divinos

automação
castidade
isso que me mantém de pé(?)
isso que me mantém um serviçal(?)

o sol vermelho escuro
os banhos de sol imaginários
o que dar de comer a teus filhos
essas grades e farpas que me rasgam os dedos
que me separam do céu

eu vi jesus cristo descalço e sujo
implorando por misericórdia
no centro da cidade a luz do dia
um cartaz em praça publica manchado com sangue inocente dizia:

“amanhã vai ser pior”


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